quarta-feira, 3 de abril de 2024

Caça às bruxas contemporânea

e a fogueira chamada Instagram


Ao trabalhar com sexualidade na internet, nos sujeitamos a uma perseguição que me provoca uma sensação que é quase um déjà vu. Em pleno 2024, falar de prazer feminino é uma heresia punível com algo que, nos nosso parâmetros atuais, é similar à morte: o apagamento das redes sociais.

Para evitar que sejamos relegadas ao ostracismo, fingimos seguir as regras. Mascaramos as palavras proibidas, inventamos códigos e mímicas que camuflem nossas ideias, apelidamos nossos produtos com nomes que disfarcem seu real propósito. É um eterno pisar em ovos e, CUIDADO! Qualquer escorregão te faz sentir o calor da fogueira. Estão loucos para te ver queimar (e não é de T).

Por que uma mulher dona dos próprios desejos é tão amedrontadora? Qual o tamanho do poder que eles enxergam em nós? E como é que nós mesmas permanecemos inconscientes desse poder?

É que uma mulher que diz “não”, sabe do que gosta e não tem medo de se expressar é uma mulher que incomoda. Eles nos querem bem quietinhas, dóceis e anestesiadas em público. Na cama, que os gemidos sejam de prazer fingido, pouco importa. Pode performar e gritar, igual nos filmes, desde que esteja ali disponível para que ele chegue ao clímax, sem nem mesmo saber onde fica o seu clitóris.

Eles não se importam se você perdeu o brilho no olhar. Esse mau humor, essa tristeza, é hormonal, toma aqui um anticoncepcional para não sentir mais nada. E assim somos castradas, desconectadas de nossos ciclos, esquecemos que existe libido e nem vemos sentido em lutar para recuperá-la. Mulher é assim mesmo, nem gosta dessas coisas.

Só que estamos despertando do nosso sono, famintas de vida. E cada mulher que acorda para o seu potencial faz questão de acordar todas as amigas. Algumas de nós, corajosas, ousam falar abertamente, na cara do inquisidor, mesmo sabendo que nenhuma iniciativa feminina está livre de represálias. Somos teimosas, sim, somos tudo o que nos falaram para não ser.

Ora mais cuidadosa, ora mais relaxada, eu sigo tentando espalhar umas verdades. Eu prefiro queimar na fogueira da censura do que permanecer congelada no torpor que nos impuseram.

Vem comigo?

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