Siririca e outros prazeres individuais

 

Quando você é sua melhor companhia

Num mundo ideal, eu diria “ninguém conhece seu corpo como você” e TODAS as mulheres concordariam. Sabemos, porém, que o tabu acerca da masturbação feminina é tão grande que, infelizmente, muitas mulheres atualmente não se identificam com essa frase.

A pouca intimidade da mulher com o próprio corpo começa cedo: enquanto todo mundo acha bonitinho um menino pegando no próprio pintinho, é só uma menina colocar a mão na vulva pra alguém já chegar berrando “TIRA A MÃO DAÍ!”. Ou seja, além de não sermos incentivadas ao autoconhecimento, somos brutalmente tolhidas nesse processo.

E você pode pensar “ai, mas tudo bem que eu não me masturbo, não faz falta na minha vida”. Será que não faz mesmo? Não conhecer o próprio corpo dificulta chegar ao orgasmo, prejudica sua libido, limita suas fantasias… sem falar que você deixa de usufruir de todos os benefícios desse autocuidado gostosinho, que melhora seu humor, disposição, sono… e por aí vai.

Mas vamos voltar um pouco aqui e refletir mais uma coisa: de forma geral, não somos ensinadas a cultivar nossos prazeres individuais, fazer coisas sozinhas, nos priorizar… desde novinhas somos doutrinadas a servir, se preocupar sempre com as necessidades dos outros antes das nossas e buscar um par como prioridade máxima na vida. Não é de se espantar que a masturbação seja a última coisa na mente da maioria das mulheres!

É justamente por isso que eu defendo tanto a nossa siririca. Numa sociedade que nos diz que nosso prazer é opcional, masturbação é ato de protesto. Essa valorização dos nossos desejos e vontades, essa capacidade de nos priorizarmos e esse senso de auto suficiência são coisas que podemos aprender na cama e extrapolar para as demais áreas da vida.

A partir de algo tão simples e tão poderoso como o nosso prazer, adquirimos autonomia para viver experiências sozinhas e aprendemos a nos impor quando necessário. Compreendemos que somos completas em nós mesmas e que o que vier de fora tem que somar, não podar.

Então fica aqui o meu convite e incentivo: siririque-se, mulher! Aproprie-se de todos os prazeres e desejos individuais dos quais o mundo tenta te privar. É um caminho deliciosamente sem volta.

Deus ajuda quem cedo...

Obrigada, orgasmos matinais!

    Vai, pode ser sincera comigo: o que você faz logo ao acordar? Eu APOSTO que muita gente vai responder que já acorda pega o celular, abrindo o Instagram e entrando numa crise de autoestima logo cedo. Ou talvez você já vá direto pro whats app e comece a resolver coisa de trabalho, responder cliente, responder chefe, e quando percebe nem saiu da cama ainda e já tá na labuta.

Depois você levanta, lava o rosto, vai tomar café da manhã, tudo bem mecânico e automático, ou pior, na maior pressa para não se atrasar! Aí já faz tudo correndo, vira aquele caos. Como que um dia que começa desse jeito pode ser bom, me fala?

Se identificou? Então continue aqui que a partir de amanhã sua rotina matinal vai ser outra!

A verdade inegável é: o melhor jeito de começar o dia é tendo prazer, sozinha ou acompanhada. E eu te garanto que isso vai te deixar muito mais produtiva e bem humorada por horas. Isso acontece porque o cérebro inicia a liberação circadiana dos neurotransmissores na primeira hora do dia, e se você não entendeu nada, vou traduzir: é logo ao despertar que o seu cérebro começa a liberar as substâncias que regulam o seu humor. Se você já dá um boost na liberação das substâncias gostosinhas que te fazem se sentir bem, a grande chance é que essa produção se mantenha.

O simples ato de pensar em sexo já libera Dopamina, enquanto o orgasmo libera Serotonina e Oxitocina. Esse é literalmente o trio da felicidade! Ou seja, você quer, sim, essa vibe te acompanhando no seu dia.

Então bora mudar esse hábito? Amanhã, quando acordar, ao invés de pegar o celular, já estica a mão pra mesa de cabeceira e pega seu vibrador preferido. Uma cápsula vibratória simples já dá conta do recado, só relaxa, coloca ela ali estimulando o seu clitóris e deixa vir. Se estiver acompanhada, lógico que pode convidar a pessoa para participar do seu momento! Dessa forma, ela também vai ter um dia muito mais gostoso de viver, graças a você.

O prazer é simples, ele está nas pequenas coisas e pode estar em cada despertar. Por isso eu desejo que amanhã você acorde e se lembre que o prazer é todo seu!

Só você pode criar o melhor sexo da sua vida

 Este é um texto sobre sexo e autorresponsabilidade.

    O grande problema da libido feminina é esperar o desejo cair do céu. A mulher não pensa em sexo em nenhum momento do dia, não conhece o próprio corpo, não fala do que gostar, não deixa claro o que quer na cama… e depois não goza por culpa do outro? Aham, sei.

É óbvio que nossa parceria tem seu papel nisso: se o entrosamento não está bom, a pessoa não te trata bem e tem zero conhecimento sobre o prazer feminino, é claro que a sua libido vai sofrer. Mas e nos casos em que está tudo 100% na relação, por que tantas mulheres relatam preguiça, falta de vontade e preferem fazer qualquer outra coisa que não seja sexo?

Porque não há motivação! Somos ensinadas a ver o sexo como algo para o outro, tem gente que inclusive usa como moeda de troca no relacionamento. O sexo não é uma recompensa para bom comportamento e greve de sexo não deveria ser uma punição dentro de um casamento.

Considerando essa (falta de) educação sistemática, aprendemos a priorizar o prazer do outro, como um objetivo a ser atingido, enquanto o nosso prazer é opcional, um extra dentro da relação. E se não há prazer, ou se até tem, mas só um pouquinho, o que vai fazer com que nosso cérebro queira repetir a experiência? Pois é, nada ! Ele precisa de recompensa.

A virada do jogo ocorre quando tomamos as rédeas da situação. Na cama, somos NÓS as responsáveis pelo nosso próprio prazer, é ele que devemos buscar. Claro que pode dar prazer pro outro, mas pensa em você primeiro, ok? Nos casos de relacionamentos heterossexuais, tá tudo bem ser um pouco (ou muito) egoísta. É dívida histórica.

Então, não, não adianta vir aqui no meu sex shop em Londrina, perguntar se tem um comprimidinho, um pózinho, um passe de mágica para a mulher ter vontade de transar. O caminho é bem menos glamouroso, mas é garantido:

• Estimula essa imaginação, mulher! Pensa um pouco em sexo no seu dia, chega de pensar em boleto e coisa ruim. Principalmente na cama, foco no momento presente seeempre;

• Se toque, se explore, se conheça intimamente e aprenda os caminhos para o seu o prazer;

• Seja assertiva na cama, peça para a pessoa fazer o que você gosta, mostre como você gosta e se entregue, o momento é seu!

Vale lembrar que saúde sexual é uma necessidade básica! É importante para o nosso bem-estar geral e os hormônios liberados no orgasmo te tornarão uma pessoa melhor, mais alegre e bem disposta, além de impactar positivamente no seu relacionamento, que se torna mais harmônico.

Te convenci? Então bora reverter a situação AGORA! Segue esses passos e depois me conta. Eu tenho certeza que você vai dizer que agora o prazer é todo seu.

Por: Letícia Felician

Orgasm Gap: por que eles gozam mais?

 

Se nossas genitais são anatomicamente homólogas, por que uma parece funcionar “melhor” do que a outra?

Vamos começar deixando uma coisa bem clara: gozar NÃO é mais fácil para os homens! Fisiologicamente, pelo menos, “chegar lá” é igual pra todo mundo.

E mesmo assim, as mulheres cis heterossexuais são as que mais sofrem. A estatística mostra que apenas 65% desse grupo relata chegar ao orgasmo sempre ou com frequência, enquanto dentre os homens cis heterossexuais, 95% relata chegar ao clímax sempre. É urgente olharmos para os fatores que levam a essa diferença de 30% nos níveis de satisfação.

Tudo começa na nossa educação, ou melhor, na falta dela. Ninguém nunca nos ensinou sobre prazer, muito menos sobre prazer feminino. Nas aulas de ciências sobre sistema reprodutor, aprendemos que meninos entram em ereção e que o sexo leva à ejaculação, enquanto as meninas menstruam e precisam se cuidar para não ter uma gravidez indesejada. Tudo muito técnico, muito assustador e nada esclarecedor. O orgasmo feminino nem ao menos é mencionado!

Também podemos falar da sociedade, cuja parcela de culpa é imensa. Estamos constantemente ouvindo que mulher não gosta de sexo, que sexo é coisa pro homem, que mulher não pode se masturbar porque é feio, pra se comportar direito… há muito tabu em torno da siririca e zero incentivo ao nosso autoconhecimento. Tudo ao nosso redor faz com que nos enxerguemos como objeto de desejo, não como um ser desejante. Se a mulher não pode desejar, não pode aprender como funciona o próprio corpo e não se sente à vontade para falar sobre sexo, como é que vai descobrir o prazer?

E, por fim, temos uma terceira culpada importantíssima, a pornografia. Os filmes adultos convencionais, além de veicularem práticas frequentemente violentas contra mulheres, também propagam ideias completamente equivocadas sobre sexo. Falos enormes, penetração estilo britadeira enlouquecida, vulvas infantilizadas… todo o contexto do filme pornô se afasta do que realmente constitui um sexo da vida real.

Esse combo todo leva as mulheres a se sentirem obrigadas a fazer sexo, performar e agradar, mas não a necessariamente gostar de transar.

O problema é tão profundo que não falamos somente da ausência do prazer, mas também da presença da dor: mulheres são cinco vezes mais propensas do que os homens a sentir algum tipo de desconforto durante o sexo! E, pra falar a verdade, boa parte desse incômodo poderia ser facilmente resolvido com o uso de um lubrificante íntimo.

Como resolvemos essa disparidade então?

Autoconhecimento, preparação e diálogo.

A preparação é na cama, o homem precisa parar de ter pressa! A maioria considera que o sexo só é válido quando há penetração, querem pular logo pro “vamo ver”, esquecendo que excitar uma vulva leva mais tempo e que há outras coisas que podem ser feitas antes para aumentar a excitação. Investir mais em toques, beijos, carícias, caprichar na dedada, no sexo oral, explorar o corpo como um todo… cada mulher tem suas preferências e boa parte da delícia do sexo é descobrir esses pontos de prazer.

Falar francamente sobre o que gostamos ou não, deixar bem claro o que queremos e não queremos na cama, tudo isso constrói um sexo muito mais praezroso. Muita mulher tem medo de ser sincera na cama e prefere fingir orgasmo pra não deixar o homem chateado (ô coitadinho!). Tem muita mulher que na real nem sabe do que gosta, porque não se sente à vontade para se masturbar e descobrir sozinha como ter prazer. Se você não sabe, como é que vai ensinar?

E, finalmente, para melhorar de vez esses números, precisamos de uma reforma completa na sociedade, com educação sexual de verdade nas escolas, valorização do prazer feminino, quebra de muitos tabus inerentes ao patriarcado… mas isso é assunto para outro texto.

Por enquanto, meu objetivo é ajudar cada mulher a fazer a sua parte. Você, mudando a realidade na sua casa, buscando seus orgasmos em cada relação, ajuda a reduzir essa diferença entre os gêneros. E você só consegue mudar isso quando entende que o prazer é todo seu.

Por: Letícia Felician