quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Prazer é permissão

 

Tá autorizada, ok?


Antes de mais nada, ouso dizer que este texto é para mim, principalmente. Eu, tão liberta ao desfrutar os prazeres da carne, enfrento minhas próprias dificuldades ao me permitir descansar, relaxar, desacelerar… se identifica com isso por aí?

Escrevo este texto no dia seguinte à retirada dos meus sisos, momento no qual me prescreveram repouso, o que me parece a maior besteira considerando que só arranquei uns dentes, nem estou com dor e me sinto ótima! Mesmo assim, estou tentando não ser teimosa: estou repousando e achando dificílimo.

Deitada no sofá, tentando me entregar a um filme de época, comecei a analisar minha dificuldade em relaxar e me deparei com os pensamentos mais mesquinhos e feios, frutos de crenças ingratas que carrego comigo. Querem saber algumas delas?

  • que eu não posso descansar se a casa não estiver impecavelmente limpa;

  • que eu não deveria relaxar tendo trabalho a fazer;

  • que eu sou empresária e ficar fazendo nada é perder tempo;

  • que eu deveria aproveitar esse período de repouso para trabalhar em estratégias e desenvolver minhas ideias de novos projetos…

E por aí vai! Algumas são bem piores e não precisam ser expostas aqui.

Isso tudo que vem na minha cabeça quando tento descansar é verdade? Claro que não! Porém, me parece tão verdadeiro que preciso fazer um esforço tremendo para ignorar. Foi o que a sociedade quis que eu acreditasse e funcionou direitinho.

Percebi que é exatamente isso que minhas clientes relatam sentir durante o sexo ou masturbação. A mente não está somente inquieta, ela está cruel! Repetindo que aquilo é errado, que só mulher vagabunda gosta daquilo, que só mulher que não presta faz essas coisas… basicamente sua própria cabeça te julga por saciar uma necessidade biológica. Ou então: que ao se permitir perder o controle, não sabe como vai reagir e pode assustar a outra pessoa com gemidos e grunhidos estranhos, que seu corpo não está adequado para sentir prazer, que tem algo errado com você… Sabe do que eu tô falando né?

E agora eu pergunto: essas coisas são reais? É claro que não! Não mais do que as afirmações que surgem em minha mente quando tento descansar. Novamente, é apenas algo que fomos muito bem ensinadas a considerar como verdades absolutas, apesar de termos consciência que não fazem sentido algum, quando analisamos racionalmente.

Meu convite, então, é pegarmos esses pensamentos intrusivos e combatermos eles com a nossa teimosia! Claro que podemos, num primeiro momento, apenas ignorá-los, talvez até mandá-los embora, só que quando isso não funciona eu penso que podemos ser um pouco mais agressivas com eles, assim como são conosco.

Vou repetir até entrar na minha cabeça que eu sou mesmo uma madame que adora descansar. Vou dizer que eu mereço muito ser essa mulher mimada. Afirmo que eu tenho total direito de ficar o dia inteiro sem fazer nada!

E você com dificuldades para se entregar no sexo, repita mais alto do que as vozes da sua cabeça que desfrutar do SEU corpo é o seu direito. Que o clitóris, um órgão exclusivo para o prazer, está aí porque você nasceu para vivenciar essas sensações deliciosas. Que você não se torna uma pessoa pior por gostar de sexo, ter vontades e desejos. Ou então repete que você é sim uma grande vagabunda e que delícia é isso de ser vagabunda. Tenho certeza que você vai pensar nas suas próprias frases.

Independente do que ouvimos ao crescer, não estamos neste mundo para sofrer, estamos aqui para sermos felizes. Então eu me autorizo a todos os prazeres que puder nesta vida. E te autorizo também. Que nós, mulheres, possamos nos unir e autorizar umas às outras.

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

O prazer faz o mundo girar

Seu dinheiro compra o que mesmo?


Eu trabalho, vivo e respiro prazer. Que baita privilégio! Isso me leva a muitas divagações sobre o prazer e suas nuances. A mais recente é sobre como o prazer é capaz de mover o mundo.

Aprendemos que estamos sempre em busca de um desejo ou fugindo de alguma dor. Quando analiso essa máxima, percebo que a própria fuga da dor é para nos levar de alguma forma à outra polaridade: o prazer. (Estamos falando de marketing e neurociência aqui, ok? na cama, super concordo que dor e prazer podem muito bem andar juntos). Sendo assim, é tudo a mesma coisa.

As pessoas que me procuram estão em busca de prazer. Algumas querem recuperar esse prazer. Outras nem o conhecem, estão sedentas por saber o que é esse tal prazer. Algo muito profundo em nós muda quando descobrimos o verdadeiro prazer. A partir dessa mudança em nós, nós mudamos o mundo. O nosso mundo, pelo menos.

O que torna o prazer tão valioso e belo é que ele é único. Cada pessoa tem a sua própria versão sobre prazer. Cada um tem seus fetiches e desejos particulares. E cada um tem a sua forma de experienciá-los e vivenciá-los.

Eu me encanto com o quanto aprendo sobre prazer todos os dias. Me divirto ao saber os fetiches alheios, os imaginados e os realizados. Me surpreendo ao esbarrar com os meus próprios desejos enquanto escuto, atenta, as fantasias de outrem. Acho uma delícia me deixar levar pela minha pulsão erótica entre quatro paredes (e fora delas também…) Dedico minha vida em incentivar mulheres, principalmente, a fazerem o mesmo.

Sendo o prazer tão amplo, eu não tenho meios de saber qual o montante de dinheiro é destinado a essa grande indústria diariamente. Mesmo assim, em meus devaneios eu me pego por vezes contabilizando números que nem sequer compreendo direito, imaginando o quanto nós, seres humanos, estamos investindo na nossa satisfação.

Eu tenho certeza que investimos muito.

Eu tenho certeza que ainda não investimos o suficiente.

Quantos mares já foram atravessados, quantas estradas percorridas, quantos voos tomados? Quantas ligações realizadas, quantos vídeos gravados, quantas cartas escritas? O quanto já, literalmente, nos movimentamos em busca de prazer?

É por isso que eu afirmo: não é o dinheiro que faz o mundo girar. É o prazer.

E aqui o prazer é todo seu.

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Convivência afrodisíaca

 

Talvez este seja o maior segredo da minha libido


Acordo cedo, bem disposta, cheia de energia. Eu sou assim. Gosto de preparar um belo café da manhã - acordo sempre faminta! Faço questão de preparar o café da manhã dele, atenta aos pesos e medidas de sua dieta (marombas entendem). Suavemente, entro no quarto, me debruço sobre seu corpo e o acordo com um beijo de bom dia, avisando que o café está pronto, esperando por ele. Ele me agradece, fica todo feliz. Comemos juntos, conversando, compartilho meus sonhos surrealistas daquela noite.

Alguns dias, porém, eu acordo com outro tipo de fome; a comida pode esperar. Ensaio um pouco em meus pensamentos, planejo meus próximos movimentos. Deslizo a mão pelo seu peitoral suavemente iluminado pela janela entreaberta, descendo cada vez mais… Começo massageando com a mão, depois com a boca. Meu fogo acende o dele e culmina num momento de intenso prazer matinal.

Chego em casa à noite, já sem muita energia pra nada. Eu sou assim, extremamente diurna. Nem fome eu sinto, morando sozinha eu raramente jantava. Ele sabe disso e por este motivo me espera com comida pronta, sinto o cheiro logo ao sair do elevador. Jantamos juntos, quase sempre. Ele me pergunta o que de maluco aconteceu no meu dia (todo dia tem algo emocionante em uma das minhas profissões). Rimos muito, ele me conta suas próprias bizarrices.

Nunca presumimos saber tudo o que o outro tem a dizer; em quase oito anos juntos, ainda nos surpreendemos demais.

Ele encaixa seus compromissos de forma a conseguir me dar carona, faz questão de me levar pro trabalho e me buscar nos meus compromissos, agora que não tenho mais carro. Ao se despedir, um beijo longo, um carinho afetuoso ou uma passada de mão bem indecente, com um sorrisinho malicioso. Às vezes, até mais do que isso… mas esse pode ser o tema de algum próximo conto. A gente sempre se despede com aquele gostinho de “quero mais”.

Eu não economizo os elogios, muito menos as frases picantes. Ele cozinhando sem camisa, a calça jeans (ou qualquer calça, na verdade) assentando perfeitamente naquele corpo que, pra mim, é o mais delicioso do mundo. Eu falo as maiores sacanagens, provoco de longe, faço um barulhinho que é segredo nosso e ele sabe o que significa. Nessa hora, vale até soltar uma cantada de pedreiro! Ele ri, ele adora.

Lavo louça, distraída. Ele chega por trás e me agarra, violente e gentil ao mesmo tempo. Beija meu pescoço, apalpa meu corpo, vira minha cabeça para beijar minha boca. Eu assusto no começo, depois me entrego ao beijo, empino a  raba e dou uma esfregadinha, satisfeita em sentir seu corpo reagindo ao meu. Ele se afasta, rindo. Foi só pra dar vontade, ele diz.

Essas não são todas as coisas, mas são algumas delas, que juntas transformam nossa convivência em afrodisíaca. Claro que este é um casamento real, nem todos os momentos são de enlevo e deleite, mas sou feliz em afirmar que estes momentos são a maioria.

Funciona por aqui, então quero que você se pergunte: o que funcionaria pra vocês? Como vocês podem deixar a convivência mais afrodisíaca por aí? 

quarta-feira, 12 de junho de 2024

A puta e a santa

 

Contém spoilers de Sex and the City, só avisando (T. 3, Ep. 16)


Não sei se você já assistiu Sex and the City - eu lembro de assistir alguns episódios quando era bem novinha (será se fui influenciada pela Samantha, sim ou com certeza?) e estou achando interessantíssimo assistir agora, com um olhar adulto e problematizador, é claro.

Hoje vamos falar sobre como nossa sociedade separa as mulheres em “pra casar”e “pra transar” e por que isso é um problema.

Estou na parte em que a Charlotte acabou de se casar com o Trey. Pra quem não sabe, a Charlotte é a “boazinha” (chatíssima) do grupo. A que sempre sonhou em se casar, ter uma família margarina, não fala palavrão e é a primeira a julgar qualquer comportamento liberal como vulgar. Só que essa princesa se casou com um broxa. E de repente o sexo passou a ser importante em sua vida.

Ela tentou todas as técnicas de sedução, empenhada em fazer a pipa subir. Tentou conversar sobre o assunto com o marido, enquanto ele sempre se esquivava do assunto, atribuindo zero importância à sua própria paumolescência.

Meses de tesão acumulado se passaram para a Charlotte, até que numa noite ela acordou com sons estranhos vindo do banheiro. Os grunhidos eram, nada mais, nada menos, do que seu marido se masturbando com a revista Peitões.

Boa notícia: o negócio funciona.

Má notícia: continua não funcionando com ela.

Como proceder?

Confesso que, no momento em que escrevo este texto, ainda não assisti o próximo episódio, então realmente não sei o que acontece. Maaas tenho meu palpite, principalmente com base em algo que o próprio Trey falou.

Em determinado momento, Charlotte decidiu buscar ajuda profissional e os dois vão juntos para terapia de casal. Como lição de casa, ambos foram orientados a deitar lado a lado e compartilhar com o outro uma fantasia sexual. Charlotte tomou a iniciativa e narrou sua fantasia, a qual podemos chamar de fantasia em todos os sentidos, pois descreveu a si mesma como uma fada princesa montada num unicórnio (insuportável, eu sei). Trey se mostrou incomodadíssimo com isso, não conseguiu compartilhar sua fantasia e, olha só, chamou sua esposa de “princesa”.

Há algo que acontece em relacionamentos, principalmente quando há muita pressão para performar papéis sociais impecáveis: a dificuldade em enxergar a mulher como… mulher! No sentido de fêmea, no sentido erótico da coisa.

Às vezes essa dificuldade parte da própria mulher, especialmente após uma gestação, quando olha para si e não consegue se encontrar. Às vezes, parte do parceiro, que ao enxergar a esposa como “mãe de seus filhos” esquece de como aqueles filhos foram gerados, para começo de conversa.

O nosso estudo de caso de hoje é um pouco mais raro, mas acontece. Trey é um homem com dificuldade para integrar o seu lado social, de homem bem sucedido, bem casado e, de certa forma, bem romântico, com seu lado erótico e instintivo. É como se seu desejo fosse muito feio e sujo, não combinasse com sua vida imaculada. Muito menos com sua esposa imaculada. O erotismo e o romantismo estão completamente separados em sua vida.

Numa outra fala com o terapeuta, ele explica que aquilo (a punheta) foi só para liberar a tensão, “não tem nada a ver com a Charlotte”. Como você já sabe, por aqui somos completamente a favor da masturbação, porém se há muito treino e nenhum jogo, isso pode indicar um problema.

Os nossos desejos não são bonitos. Teimosos, se recusam a seguir normas sociais. Não podemos escolher o que nos deixa com tesão, nossa tarefa é integrar e explorar nossas vontades, dentro dos limites de consensualidade dos envolvidos, é claro. Nem sempre é uma tarefa fácil. E sem comunicação é impossível.

Ao invés de se abrir com a esposa, Trey prefere se esquivar e se masturbar escondido. E eu entendo, de verdade, provavelmente nem ele mesmo compreende o que há de errado; sem informação e repertório, ainda mais quando falamos de gerações anteriores à nossa, não há como assimilar essa contradição, muito menos como expressá-la.

Ainda assim, temos uma esposa que, apesar de considerar o sexo secundário numa relação, está insatisfeita e com vontade de vivenciar sua sexualidade ao lado do homem que escolheu. Para tanto, Trey precisará estar aberto a incluir sua esposa em sua vida sexual. Talvez Charlotte possa ajudar, assumindo uma persona diferente na cama, só que isso também depende do Trey se abrir mais acerca do que desperta o seu desejo. E depende da Charlotte estar disposta a expandir seu repertório erótico… E na real talvez tudo se resolva se a Charlotte colocar silicone.

Brincadeira, não acho que um silicone seja capaz de resolver tudo, a única certeza que eu tenho é que esse casal precisa deixar de lado algumas crenças e expandir os seus conceitos.

Vamos aguardar os próximos episódios! Até lá, fica a minha recomendação para você integrar os seus desejos, até os mais estranhos, na sua vida conjugal. E recomendo assistir Sex and the City também, para eu ter com quem comentar os absurdos da TV nos anos 90.

sábado, 1 de junho de 2024

A grama do vizinho não precisa ser a mais verde

 mas faça o favor de cuidar do seu quintal


    Alguns dias atrás, uma mulher veio aqui na loja e conversamos longamente sobre sexo e relacionamentos, até que ela me contou algo que achei incrível. Ela disse “todo mundo sempre acha a mulher dos outros mais bonita, mas eu decidi que comigo não seria assim. Depois de ter meu segundo filho, troquei todas as calcinhas feias por umas bem bonitas e eu provocava meu marido: saía sem calcinha e contava pra ele, pra ele ficar pensando nisso enquanto a gente tava fora de casa”. 

Essa foi a maneira que ela encontrou de se manter interessada e interessante. Um modo de deixar seu parceiro ávido por voltar pra casa com ela. Disse que funcionou muito bem! 

É claro que não podemos comparar a idealização de uma projeção com a realidade da pessoa com a qual convivemos todos os dias. O marido ou esposa dos outros parece mais interessante apenas porque não lidamos com as partes negativas daquela pessoa. Não vemos seus momentos de estresse pós trabalho, a bagunça que deixa na cozinha, o quanto gasta no cartão de crédito… o ônus de se conhecer intimamente alguém é também ficar íntima de todas as suas sombras.

Se lidar com os defeitos é algo inerente ao casamento, como podemos não nos deixar engolir pelo enfado da convivência?

Essa é mais uma daquelas situações em que, infelizmente, não há uma receita de bolo. Mesmo assim, suponho que posso recomendar uma coisa ou outra.

Pra começar, repare nos assuntos sobre os quais conversam. É claro que no meio da rotina há muita burocracia para resolver; dividir uma casa é igual ser sócio de uma empresa. O problema começa quando os casais só falam de coisa chata e esquecem de compartilhar interesses mais leves. Ficam presos num looping de boletos-mercado-filhos-tarefas, sem tempo para discutir filmes, música, arte, esportes, hobbies, astros ou sobre qualquer outra coisa que compartilhavam no começo da relação.

Analisa aí: sobre o que conversavam nos primeiros encontros? E sobre o que conversam agora? É um bom ponto de partida.

Agora, outra perguntinha capciosa: vocês se cuidam da mesma maneira que se cuidavam um para o outro no início? Já quero deixar bem claro que eu sei muito bem que é impossível estar montada, arrumada e depilada todo dia, não é sobre isso. A pessoa tem que se acostumar com a sua versão não produzida. Mas será que algumas coisinhas não podem ser ajustadas? 

Você precisa mesmo ter calcinha velha e furada na sua gaveta? Precisa mesmo dormir com pijama de bichinho que parece de criança? Tá, mas toda noite? Não tô te falando para usar lingerie sensual o dia inteiro, só pensa se você tem alguma peça que não deixaria a pessoa ver de jeito nenhum no começo do relacionamento. É com isso que você vai se apresentar depois de morar junto?

E pra alugar mais um triplex na sua cabeça, como você pode movimentar a imaginação e libido dos dois neste momento de vida? Com a minha cliente, funcionou sair sem calcinha. Com outra, eu sei que um vibrador com controle remoto fez sucesso. Também há quem deixe os filhos com os avós para ir pra balada ou pro motel, como faziam na época do namoro. E há quem não perca a oportunidade de mandar uma mensagem safada no meio do dia ou dar aquela passada de mão quando encontra a pessoa distraída.

O desejo é simples, o tesão é simples. Descubra o seu simples. E não é pra fazer isso só pra salvar casamento não, faça por você, pela sua libido. A libido é que nos tira da cama pela manhã e esses pequenos gestos vão impactar, mais do que tudo, a sua vida. O seu relacionamento é consequência.

 

Testa essas coisas e me conta? Eu só quero que você perceba que o prazer é todo seu.

 

sábado, 18 de maio de 2024

Sobre Fetiches e Limites

 

E o que podemos aprender com o BDSM

 

    

    A primeira coisa notável do BDSM é que sempre há limites e acordos muito bem estabelecidos. Antes do início da prática, os envolvidos conversam, definem uma palavra de segurança e entram naquela situação, que para muitos pode parecer estranha, sabendo exatamente o que esperar.

Você precisa concordar que isso já é bem diferente de práticas eróticas mais convencionais, acho que podemos chamar assim; afinal, quantas de nós já não nos percebemos em transas insatisfatórias, que não corresponderam às nossas expectativas? Ou, de repente, nos vemos em situações sexuais desconfortáveis, sem saber muito bem como escapar daquilo? Pois é, você não é a única.

Com certeza todos nós entendemos a necessidade de confiar em alguém que vai te amarrar, te dar ordens, te pendurar no teto ou, talvez, pisotear suas costas usando um salto alto… mas não podemos subestimar a importância de confiar em qualquer pessoa com quem dividimos a cama ou a vida. O diálogo, tão essencial para se estabelecer uma relação de confiança, muitas vezes está ausente nos relacionamentos baunilha (aqueles de fora do universo BDSM).

Então como é que você pode saber que a pessoa não vai ultrapassar seus limites se você não os deixou claros para início de conversa? E será que você conhece tão bem assim os seus limites para esclarecê-los a alguém?

O mundo dos fetiches também fala sobre autoconhecimento. Você explora o que gosta, descobre o que não gosta, sempre com a sua palavra de segurança em mente para interromper a prática a qualquer momento, caso perceba que algo não está fazendo sentido para você.

Outro ponto super interessante é o chamado “aftercare”, que consiste basicamente nos cuidados após a prática. Pode envolver conversar sobre o ato, buscar uma água e comer um chocolate juntos, cuidar das feridas, tomar banho… é um momento importantíssimo para a criação de laços e para evitar aquela queda brusca de adrenalina e outros neurotransmissores, o que acaba nos deixando com aquela sensação meio esquisita pós sexo, sabe? Eu sei de muita gente que se diz “normal” e pega o celular logo depois de gozar, com zero preocupações de nutrir qualquer vínculo.

Pra finalizar, eu ouso dizer que os fetiches falam muito sobre coragem. É preciso coragem para bancar os próprios desejos. São muitas as pessoas que passam a vida tratando as próprias vontades como esqueletos no armário. Isso não é jeito de se lidar com os desejos. Eles merecem uma oportunidade de te mostrar como a vida pode ser mais interessante.

Então eu te convido a procurar os seus fetiches, quer estejam expostos ou escondidos. Experimente, vivencie. Aprenda com eles. E o mais importante: tenha muuuito prazer!

 

sexta-feira, 26 de abril de 2024

A libido te tira da cama pela manhã

 

E nem sempre te leva pra ela de noite…


Por aqui nós enxergamos a libido como pulsão de vida e, como nossa vida é composta por inúmeros pratinhos que tentamos precariamente equilibrar, a libido frequentemente se concentra em alguns aspectos, em detrimento de outros.

É super comum em alguns momentos nos percebermos totalmente focadas no trabalho ou em algum projeto. Quem tem filhos passa por isso de forma ainda mais intensa, pois durante o puerpério toda a pulsão se direciona para cuidar daquele novo ser humano que nasceu.

Se nem sempre a libido está voltada para o sexo, ela provavelmente estará depositada em alguma outra área, certo? Então o primeiro ponto é se perguntar “para onde está indo minha energia neste momento?” A partir deste lugar, você consegue expandir a pulsão para outras áreas, incluindo o sexo.

Tá, mas e quando procuramos e não encontramos a libido em lugar nenhum?

Uma coisa importante sobre a libido é que ela é uma energia que precisa ser movimentada. Se nos acomodamos num cotidiano que não nos desperta o tesão em nenhum momento - trabalho que não nos motiva, relacionamento monótono, ausência de projetos, hobbies e criações de nosso interesse - ela adormece e nos sentimos sem brilho, chegamos a pensar que esse negócio de libido nem é pra gente. Passou. Morreu! Já se sentiu assim? Eu já.

Por isso que eu defendo provocar a libido na cama, na nossa sexualidade. Despertar, movimentar e expandir essa energia a partir de algo que está quase que literalmente nas nossas mãos: o sexo.

E como é que se faz isso? Despertando o prazer!

Eu não tô aqui para falar de metáforas e te deixar mais confusa do que quando começou a ler, eu quero te dar o passo a passo. E a primeira coisa é decidir, tomar a decisão de não deixar esse desânimo continuar a te definir. Agora você está pronta para conhecer o desejo responsivo, aquele tipo de desejo que não pula no seu colo quando você tá largada no sofá, mas que se manifesta quando você dá uma chance pra ele.

Para o desejo se manifestar ele precisa de espaço, então separar um momento para isso é essencial (principalmente se você tem filhos!). Isso não significa “marcar horário pra transar”, significa simplesmente passar um tempo de leveza e descontração, sozinha ou acompanhada, para criar aquele clima de intimidade gostosa. Fez sentido?

Ok, você separou esse momento longe de filho, gato, cachorro, boleto… e mesmo assim não sentiu aquele fogo do desejo te consumindo? É porque você também precisa acordá-lo! E você faz isso iniciando os toques e carícias que funcionam pra VOCÊ. Não existe receita de bolo, porque algo que excita fulana, talvez não excite siclana.

Tem algo que você sabe ser infalível para te deixar no clima? Faça isso! Ou peça para a sua pessoa fazer. Se você não sabe, tá na hora de testar e descobrir o que funciona pra você. Vou dar algumas sugestões:

  • beijo no pescoço

  • carinho na orelha

  • beijo de língua beeem lento, com a mão na nuca e aquela puxadinha de leve no cabelo

  • massagem nos pés

  • sexo oral - fazer ou receber (eu prefiro fazer, funciona comigo, receber se ainda não estou excitada eu não gosto)

  • massagem nas costas…

O importante é trazer o foco para o SENTIR. Sexo é meditação ativa, esvazia a mente e se entrega às sensações. Justamente por isso que essas sensações precisam ser as mais agradáveis do mundo pra você.

Não existe passe de mágica, libido é movimento. Então aprende mais sobre o seu prazer e chama ela que ela vem!

Prazer é permissão

  Tá autorizada, ok? Antes de mais nada, ouso dizer que este texto é para mim, principalmente. Eu, tão liberta ao desfrutar os prazeres da...