Tá autorizada, ok?
Antes de mais nada, ouso dizer que este texto é para mim, principalmente. Eu, tão liberta ao desfrutar os prazeres da carne, enfrento minhas próprias dificuldades ao me permitir descansar, relaxar, desacelerar… se identifica com isso por aí?
Escrevo este texto no dia seguinte à retirada dos meus sisos, momento no qual me prescreveram repouso, o que me parece a maior besteira considerando que só arranquei uns dentes, nem estou com dor e me sinto ótima! Mesmo assim, estou tentando não ser teimosa: estou repousando e achando dificílimo.
Deitada no sofá, tentando me entregar a um filme de época, comecei a analisar minha dificuldade em relaxar e me deparei com os pensamentos mais mesquinhos e feios, frutos de crenças ingratas que carrego comigo. Querem saber algumas delas?
que eu não posso descansar se a casa não estiver impecavelmente limpa;
que eu não deveria relaxar tendo trabalho a fazer;
que eu sou empresária e ficar fazendo nada é perder tempo;
que eu deveria aproveitar esse período de repouso para trabalhar em estratégias e desenvolver minhas ideias de novos projetos…
E por aí vai! Algumas são bem piores e não precisam ser expostas aqui.
Isso tudo que vem na minha cabeça quando tento descansar é verdade? Claro que não! Porém, me parece tão verdadeiro que preciso fazer um esforço tremendo para ignorar. Foi o que a sociedade quis que eu acreditasse e funcionou direitinho.
Percebi que é exatamente isso que minhas clientes relatam sentir durante o sexo ou masturbação. A mente não está somente inquieta, ela está cruel! Repetindo que aquilo é errado, que só mulher vagabunda gosta daquilo, que só mulher que não presta faz essas coisas… basicamente sua própria cabeça te julga por saciar uma necessidade biológica. Ou então: que ao se permitir perder o controle, não sabe como vai reagir e pode assustar a outra pessoa com gemidos e grunhidos estranhos, que seu corpo não está adequado para sentir prazer, que tem algo errado com você… Sabe do que eu tô falando né?
E agora eu pergunto: essas coisas são reais? É claro que não! Não mais do que as afirmações que surgem em minha mente quando tento descansar. Novamente, é apenas algo que fomos muito bem ensinadas a considerar como verdades absolutas, apesar de termos consciência que não fazem sentido algum, quando analisamos racionalmente.
Meu convite, então, é pegarmos esses pensamentos intrusivos e combatermos eles com a nossa teimosia! Claro que podemos, num primeiro momento, apenas ignorá-los, talvez até mandá-los embora, só que quando isso não funciona eu penso que podemos ser um pouco mais agressivas com eles, assim como são conosco.
Vou repetir até entrar na minha cabeça que eu sou mesmo uma madame que adora descansar. Vou dizer que eu mereço muito ser essa mulher mimada. Afirmo que eu tenho total direito de ficar o dia inteiro sem fazer nada!
E você com dificuldades para se entregar no sexo, repita mais alto do que as vozes da sua cabeça que desfrutar do SEU corpo é o seu direito. Que o clitóris, um órgão exclusivo para o prazer, está aí porque você nasceu para vivenciar essas sensações deliciosas. Que você não se torna uma pessoa pior por gostar de sexo, ter vontades e desejos. Ou então repete que você é sim uma grande vagabunda e que delícia é isso de ser vagabunda. Tenho certeza que você vai pensar nas suas próprias frases.
Independente do que ouvimos ao crescer, não estamos neste mundo para sofrer, estamos aqui para sermos felizes. Então eu me autorizo a todos os prazeres que puder nesta vida. E te autorizo também. Que nós, mulheres, possamos nos unir e autorizar umas às outras.